De acordo com a revista brasileira de sexualidade humana, 50% das mulheres que possuem dor pélvica apresentam dor durante a relação sexual. A dispareunia, nomenclatura médica, para a dor genital durante o ato sexual é um sintoma presente em inúmeras mulheres que chegam ao meu consultório. A causa dessa dor precisa ser investigada, pois ela pode estar relacionada à várias causas, entre elas, a endometriose, condição que me especializei ao longo dos anos.
No entanto, um fato curioso que percebo no dia a dia do consultório é a atitude do parceiro de minhas pacientes e é por essa razão que escrevo esse artigo. Normalmente, quando a mulher vem ao meu consultório pela queixa de infertilidade, seu parceiro está ao seu lado, porém a mulher que vem ao consultório com queixa de dor pélvica geralmente se apresenta sozinha em consulta.
Quando vemos que metade das mulheres com dor pélvica também apresentam dor na relação sexual e elas estão sozinhas em busca de tratamento, precisamos voltar nossa atenção e auxiliar o parceiro dessa mulher a compreender o que ela passa. A intimidade gerada pela relação sexual é extremamente importante para o sucesso e a realização de toda vida a dois. Quando esse momento de encontro do casal não é prazeroso para um, também se torna ruim para o outro. Ou seja, o impacto da dispareunia é sentido pelo casal e não só pela mulher.
O homem precisa compreender o que sua parceira passa, pois por mais íntimos que sejam muitas parceiras sentem-se envergonhadas em lhes explicar o que realmente sentem. Às vezes, entendem que é assim mesmo e têm que aguentar. Essas mulheres muitas vezes passam a ter medo e ansiedade só de pensar em ter uma relação com seu marido, em contrapartida, o parceiro por sua vez cobra sua esposa. Esse ciclo de afastamento do ato sexual transforma-se em afastamento emocional do casal e assim a qualidade de vida de ambos passa a ficar comprometida.
A dor durante a relação pode acontecer de muitas formas. O que, normalmente, acontece com a mulher portadora de endometriose é a sensação de incômodo se intensificar gradualmente. Pode começar com uma sensação de ardência, às vezes, algum desconforto dependendo da posição sendo, normalmente, mais intensa no período pré-menstrual. No entanto, com o passar do tempo esse incômodo pode se transformar em dor.
A dispareunia pode ser classificada em:
- Superficial: dor na entrada da vagina, no momento da penetração.
- Profunda: a dor sentida mais ao fundo da vagina, próximo ao útero.
A endometriose provoca dispareunia principalmente quando há lesões na vagina, nos ligamentos uterossacros (que dão suporte ao útero na pelve) e, no fundo, de saco, espaço anatômico localizado entre o útero e o reto (na porção mais inferior da cavidade peritoneal). A dor pode ser causada pela pressão direta nos nódulos de tecido endometriótico, que geralmente estão inflamados. O mecanismo de estiramento ou tração das fibras nervosas presentes nas aderências pélvicas é outra causa da dor durante a relação sexual.
Muitas mulheres relatam que durante a relação sentem como se estivessem levando facadas na barriga a cada penetração ou como se estivesse com um ralado e entrasse no mar com o machucado aberto. Algumas mulheres também relatam que após a relação sexual permanecem dores pulsantes na região pélvica. Quando essa é a sensação da mulher durante o ato sexual, é mais que natural ela querer evitá-lo. Com a vida sexual prejudicada, o casal sofre, a relação afetiva fica fragilizada e conflitos entre os parceiros tendem a aumentar.
Sentir dor não é normal. Homens e mulheres precisam da sensação de prazer gerada pelo ato sexual. Esse momento de intimidade e prazer fortalecem os laços do casal, por essa razão a busca por tratamento deve ser feita pela mulher e por seu parceiro.
Há inúmeras possibilidades de tratamento para a dispareunia. O primeiro passo é a mulher ter uma rede de apoio que compreenda sua dor (parceiro e profissionais de saúde que estejam dispostos a ajudar). Um segundo ponto é identificar a causa dessa dor. E um terceiro e contínuo passo é permanecer em busca de qualidade de vida, pois, provavelmente, muitas mudanças comportamentais precisarão ser feitas.
Meu intuito com esse artigo é conscientizar os parceiros das mulheres com dor pélvica compreenderem que a dor é real, que é difícil de ser diagnosticada e que o apoio deles é imprescindível. Quando homem e mulher compreendem que estar junto nessa busca por tratamento trará melhoria na vida de ambos, o caminho para isso acontecer fica muito mais leve, assim como ambos serão recompensados quando uma solução for encontrada.